Nós todos já estivemos lá. Você está na hora 2 de muitas horas... A parede está coberta com pedaços de papel com anotações. O café está acabando. E os olhos de todo mundo já começam a se embaçar. Você está pensando em todo trabalho que não está fazendo enquanto está sentado naquela sala. E as três pessoas mais espalhafatosas da equipe estão competindo não oficialmente para ver quem têm mais ideias, e que se dane a qualidade!
Bem-vindo a realidade das técnicas de brainstorming em grupo na maioria dos negócios, hoje em dia.
Está bem longe do romântico estilo Mad Men de sessões criativas em que todo mundo está sentado em uma sala de reunião, toda equipada, e jorram improvisos geniais de todos os lados.
Como se sabe, a técnica de brainstorming surgiu na era do verdadeiro Med Men. Inventada pelo publicitário Alex Osborn no final de 1940, serviu como uma maneira de gerar uma grande quantidade de ideias em um ambiente onde as ideias de todos tinham o mesmo peso, o que, é claro, não era exatamente comum, naquela época. Ao democratizar a geração de ideias, Osborn acreditava que as melhores surgiriam e se destacariam.
Mais do que nunca, nossa força de trabalho está preparada para este tipo de exercício. Priorizamos a colaboração no local de trabalho. A geração dos Millennials já é a maior fatia dos trabalhadores nos Estados Unidos (serão 75% dos trabalhadores brasileiros em 2025) e tem trabalhado de forma colaborativa desde criancinhas. Nós literalmente derrubamos as barreiras à colaboração com nossos escritórios abertos e espaços de trabalho destinados a estimular a criatividade.
Dado tudo isso, nada como fazer um brainstorming quando precisamos de um monte de ideias sensacionais para inspirar um esforço criativo. Aí, reservamos uma sala de reuniões e reunimos um grupo seleto de cérebros em torno de uma mesa.
Mas e se não for este o jeito certo de como fazer brainstorming? O que estamos realmente conseguindo quando usamos essas técnicas de brainstorming em grupo?
O que não está rolando em suas técnicas de brainstorming
Começando pelo começo – vamos estourar a bolha da teoria do brainstorming para entender o que não está acontecendo enquanto todos estão sentados chutando qualquer ideia.
Você sabe o que é um grande mito? Que esforços em grupo resultam em mais criatividade.
Geralmente a gente tenta técnicas de brainstorming em grupo quando queremos criar um monte de ideias sem nenhum filtro. Estamos seguindo o velho ditado de que “muitas cabeças são melhores do que uma”, nos dão ideias melhores do que se todos abordássemos a questão individualmente.
Qual o problema? Um monte de cabeças na mesma sala não ajuda a gente a ter ideias melhores coisa nenhuma.
Na verdade, uma meta-análise de 241 estudos diferentes, envolvendo 24 mil indivíduos no Psychological Bulletin concluiu que a presença de outras pessoas quase não teve qualquer efeito sobre o desempenho da tarefa e definitivamente não da maneira que Osborn teria esperado. No geral, a presença de outras pessoas "aumenta a velocidade de desempenho de tarefas simples e diminui a velocidade do desempenho tarefas complexas", sugerindo que as tarefas de alto nível, como o pensamento criativo, na verdade, seriam prejudicadas.
O que acontece de verdade durante essas técnicas de brainstorming em grupo?
Seres humanos são criatura sociais. Isso não significa que todos nós amamos ser sociais, mas, mais do que isso, nós somos ligados em responder de determinadas maneiras à presença de outros humanos e suas ações.
Quando estamos em um grupo, inevitavelmente, a dinâmica de grupo toma conta. E algumas dessas dinâmicas podem ser bastante prejudiciais para o objetivo final de conseguir um monte de boas ideias em uma sessão de brainstorming.
Confira algumas das forças em jogo durante sua técnica de brainstorming em grupo:
1. Todo mundo está jogando direitinho
A gente se preocupa com o que os outros vão pensar da gente. Em um cenário de grupo, sempre ficamos com alguma preocupação com as aparências, o que torna mais difícil ter ideias verdadeiramente sem filtro. A teoria da apreensão de avaliação sugere que as configurações do grupo podem prejudicar o nosso desempenho devido ao medo de ser julgado.
O resultado é que muitas vezes somos extremamente gentis com os outros para evitar sermos criticados duramente de volta. Isso contribui para gerar dinâmicas agradáveis e bem educadas no local de trabalho, mas pode ser muito menos útil quando se deseja gerar ideias criativas em grupo.
2. As pessoas estão se esforçando menos do que fariam sozinhas
O fenômeno da indolência social é um risco em qualquer tipo de reunião em grupo, inclusive brainstorming. Basicamente, as pessoas não sentem que têm que se esforçar muito quando sabem que há um monte de outros membros do grupo para cobrir sua preguiça.
Se as pessoas são as únicas responsáveis por ter ideias e não podem contar com os outros para dar ideias, elas são muito mais propensas a se motivarem.
3. Você não está dando uma chance a cada membro do grupo de contribuir
A ideia de que todas as ideias são iguais em uma sessão de brainstorming é uma bonita fantasia, mas na maioria das vezes não corresponde à realidade.
A estrutura baseada em turnos do brainstorming premia as ideias que aparecem primeiro no flipchart (um viés cognitivo chamado de "ancoragem"). Uma vez que algumas ideias foram propostas, elas se ficam mais tempo na frente do grupo e recebem uma importância maior (talvez indevida) sobre as ideias posteriores.
Isso injustamente pune os membros introvertidos da equipe que levam mais tempo para dar ideias.
As pessoas também tendem a reter automaticamente ideias se elas acham que outros no grupo são mais experientes. A não ser que você tenha um grupo de colegas que acreditam que são todos do mesmo nível, essa percepção de status pode atrapalhar seu grupo.
4. O grupo está tentando chegar a um nível não muito espetacular, tipo mediano, sem se dar conta disso
Outro fenómeno psicológico-social que surge durante atividades em grupo como um brainstorming é a tendência a "regredir à média."
Você já deve ter ouvido isso expresso de outras maneiras. As equipes de esportes "fazem corpo mole" dependendo do nível de seus adversários. Da mesma forma, durante técnicas de brainstorming clássicas, as pessoas mais talentosas, com ideias melhores, tendem a querer se igualar ao nível dos colegas menos talentosos.
A psicologia social humana gosta de nos ver inseridos em grupos, e igualar nossa performance desta maneira preenche essa nossa necessidade, mas também faz com que tenhamos um monte de ideias medíocres.
Jeitos melhores de ter aquelas boas ideias que você queria para começar
Técnicas de brainstorming como foram desenvolvidas e como a maioria de nós faz atualmente? Nada efetivo.
A premissa por trás do brainstorming? É lógica e vale a pena perseguir.
Trabalhar em grupo produz resultados surpreendentes. Nós somos mais fortes como um grupo de indivíduos, somando forças individuais, do que somos sozinhos. Essa parte nunca esteve em dúvida.
É o que o professor de psicologia, Art Markman, da Universidade do Texas em Austin, chama de FastCo Design: "Não é que as pessoas que trabalham em conjunto não são boas. É que a técnica que Osborn desenvolveu é ruim."
Então, como podemos fazer melhor?
1. Dê ao seu grupo espaço para pensar em ideias independentemente
Pessoas atingem o pico de criatividade quando estão sozinhas – longe de preconceitos inconscientes, dinâmicas de grupo e potenciais interrupções. Então, se você está procurando as ideias de mais alta qualidade, deixe as pessoas encontrarem essas ideias sozinhas.
Não importa como você vai fazer isso, se por meio de um formulário online, ou por escrito (ou com um quadro de brainstorming Trello!), tenha certeza de que a fase inicial do brainstorming permitiu que as pessoas usassem seu poder mental.
2. Alguém precisa ser “o decisor”
Não tem como fazer um brainstorming sendo democrático, mesmo você querendo que as ideias de todos sejam levadas em conta. Você precisa de um facilitador, no mínimo, para se assegurar que as reuniões em grupo não fujam do assunto ou terminam com algumas pessoas dominando a conversa.
Mas, além disso, você precisa de alguém que será responsável por escolher a melhor ideia, e isso não deve ser feito por aclamação. "Melhor ideia" significa coisas diferentes na opinião de pessoas diferentes, mas em última análise, a opinião de uma pessoa deve contar mais.
Isso quer dizer que o diretor de criação tem a palavra final, ou o gerente da conta, ou mesmo o cliente, dependendo do que está se decidindo no brainstorming. Mas alguém precisa ser o “manda chuva”.
3. Estruture o seu processo
Defina uma estrutura para sua técnica de brainstorming e avise as pessoas antes. Estrutura, pode parecer contraditório, na verdade ajuda a ser criativo.
Ao forçar as pessoas a pensar dentro das mesmas linhas gerais, você os impede de desperdiçar o poder de seu cérebro indo além do campo de ideias que você quer que eles explorem. Isso significa que eles podem cavar mais fundo em um espaço menor para achar aquelas pepitas de ouro criativo que você quer!
Sendo avisados da estrutura (e da duração das reuniões) vai ajudar os membros da equipe a se prepararem para o que está por vir, em vez de se preocuparem se vão ficar presos em uma sala para sempre. Jay Acunzo da NextView oferece uma excelente estrutura de brainstorming que incentiva a expressão individual, mas também tira proveito da criatividade do grupo.
4. Preste atenção nas dinâmicas do grupo
Esteja consciente de todas as dinâmicas em jogo no seu grupo, e fique atento a quaisquer comportamentos que passam estar empacando o grupo. Se você trabalhar ativamente na inteligência emocional da sua equipe, isso vai ajudar a soltar a criatividade e aumentar a desinibição (leia nossas dicas sobre isso aqui). Sua estrutura deve construir oportunidades para que todos possam contribuir, e um facilitador deve estar no comando da reunião, inclusive para decidir quem vai falar a seguir e quando o grupo vai passar para o próximo tópico.
Simplesmente diga não à sala de reuniões
Então, da próxima vez que você se encontrar em uma situação que parece perfeita para um bom brainstorming em grupo, tente resistir à tentação.
Considere usar um processo que prioriza a criatividade individual e, em seguida, aplique a dinâmica de grupo para melhorar as ideias existentes, em vez de tentar gerá-las em um ambiente de grupo.
Estamos apostando que ninguém vai reclamar quando você deixar de ocupar três horas de todo mundo na sala de reuniões com um Flipboard gigante e pilhas de post-its. E você vai acabar com um monte de ideias melhores como resultado.
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